MORREU PAPA BENTO XVI E É LEMBRADO COMO UM GRANDE PAPA PELO SEU AMOR AOS SERES HUMANOS
Morreu, na manhã deste sábado (31), o Papa emérito Bento XVI. A notícia da morte foi comunicada pelo director da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, por volta das 10h. No entanto, o Papa Francisco Bento XVI afirmou que Bento XVI foi “um grande Papa” pelo “seu amor à Igreja e aos seres humanos”.
Em reação a morte do papa emérito Bento XVI, o vigário geral da Diocese de Bissau, Padre David Sciocco, disse que recebeu a notícia como a realização da vida do falecido papa emérito ao serviço da Igreja e do mundo e “queremos agradecer a Deus por todo o bem que fez e em vida e pela coragem que teve em apresentar a sua demissão”.
“Não é que ele não queria se responsabilizar ou trabalhar, mas é porque viu que a Igreja precisava de uma outra pessoa e ele estava a viver o seu serviço à Igreja de uma outra forma que é em silencia e na oração”.
Neste momento de dor, disse o padre Davide, quero que rezemos por ele e com a esperança que ele vai continuar a trabalhar pelo bem da Igreja ao lado de Deus no paraíso.
“Agradecemos a Deus pelo dom deste grande Papa e pedimos que Ele continue a acompanhar a sua Igreja e que dê força para que o Papa Francisco continue a seu serviço”, pede.
Na mesma linha, o administrador diocesano da diocese de Bafatá, padre Luccio Brentegani, lamentou a morte do papa emérito, que segundo ele, Bento XVI viveu muito e trabalhou muito para Igreja católica.
O padre diz ainda que a Igreja Católica em toda a parte do mundo está triste pela morte do papa emérito, mas també, agradecemos a deus pelo serviço feito ao longo da sua vida e pedimos a Deus que receba a sua alma.
“Juntemos os nossos pensamentos com toda a Igreja católica do mundo para rezemos pedindo a Deus pelo Papa Bento XVI e que Deus nos mande sempre padres, bispos e papas santos que nos mostrem o caminho de Jesus”, exorta.
Ainda em reação a esta mesma morte, o secretario da diocese de Bissau, padre Domingos Cá, lembra o papa emérito como quem amou e serviu a Igreja durante toda a sua vida como padre, como teólogo, como bispo e como Papa.
“O que me marcou em sua vida foram três aspetos; é um homem de fé profunda, que amou a Igreja e serviu a Igreja com humildade. Quando foi eleito Papa a sua frase que escolheu logo no início é que era um humilde trabalhador na vinha do Senhor. Era um homem muito inteligente, mas que soube colocar a sua inteligência ao serviço da Igreja com toda a humildade”, disse o padre guineense.
Papa emérito Bento XVI, nome de batismo Joseph Ratzinger, nasceu em 1927 e foi Papa entre 2005 e 2013. Ele morreu após nove anos da sua renúncia que aconteceu em fevereiro de 2013, segundo o Vaticano, nunca em dois milênios de história da Igreja um Papa deixou a Cátedra por sentir-se fisicamente inadequado para suportar o peso do pontificado.
Eis a sua biografia publicada pelo Vaticano
O cardeal Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI, nasceu em Marktl am Inn, Diocese de Passau (Alemanha), no dia 16 de abril de 1927 (Sábado Santo), e foi batizado no mesmo dia. O seu pai, comissário da polícia, provinha duma antiga família de agricultores da Baixa Baviera, de modestas condições econômicas. A sua mãe era filha de artesãos de Rimsting, no lago de Chiem, e antes de casar trabalhara como cozinheira em vários hotéis.
Passou a sua infância e adolescência em Traunstein, uma pequena localidade perto da fronteira com a Áustria, a trinta quilômetros de Salisburgo. Foi neste ambiente, por ele próprio definido “mozarteano”, que recebeu a sua formação cristã, humana e cultural.
O período da sua juventude não foi fácil. A fé e a educação da sua família prepararam-no para enfrentar a dura experiência daqueles tempos, em que o regime nazista mantinha um clima de grande hostilidade contra a Igreja Católica. O jovem Joseph viu os nazistas açoitarem o pároco antes da celebração da Santa Missa.
Precisamente nesta complexa situação, descobriu a beleza e a verdade da fé em Cristo; fundamental para ele foi a conduta da sua família, que sempre deu um claro testemunho de bondade e esperança, radicada numa conscienciosa pertença à Igreja.
Até o mês de setembro de 1944 esteve alistado nos serviços auxiliares anti-aéreos.
Recebeu a Ordenação Sacerdotal em 29 de junho de 1951.
Um ano depois, começou a sua atividade de professor na Escola Superior de Freising.
No ano de 1953, doutorou-se em teologia com a tese “Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho”. Passados quatro anos, sob a direcção do conhecido professor de teologia fundamental Gottlieb Söhngen, conseguiu a habilitação para a docência com uma dissertação sobre “A teologia da história em São Boaventura”.
Depois de desempenhar o cargo de professor de teologia dogmática e fundamental na Escola Superior de Filosofia e Teologia de Freising, continuou a docência em Bonn, de 1959 a 1963; em Münster, de 1963 a 1966; e em Tubinga, de 1966 a 1969. A partir deste ano de 1969, passou a ser catedrático de dogmática e história do dogma na Universidade de Regensburg, onde ocupou também o cargo de Vice-Reitor da Universidade.
De 1962 a 1965, prestou um notável contributo ao Concílio Vaticano II como “perito”; viera como consultor teológico do Cardeal Joseph Frings, Arcebispo de Colônia.
A sua intensa atividade científica levou-o a desempenhar importantes cargos ao serviço da Conferência Episcopal Alemã e na Comissão Teológica Internacional.
Em 25 de março de 1977, o Papa Paulo VI nomeou-o Arcebispo de München e Freising. A 28 de maio seguinte, recebeu a sagração episcopal. Foi o primeiro sacerdote diocesano, depois de oitenta anos, que assumiu o governo pastoral da grande arquidiocese bávara. Escolheu como lema episcopal: “Colaborador da verdade”; assim o explicou ele mesmo: “Parecia-me, por um lado, encontrar nele a ligação entre a tarefa anterior de professor e a minha nova missão; o que estava em jogo, e continua a estar – embora com modalidades diferentes –, é seguir a verdade, estar ao seu serviço. E, por outro, escolhi este lema porque, no mundo atual, omite-se quase totalmente o tema da verdade, parecendo algo demasiado grande para o homem; e, todavia, tudo se desmorona se falta a verdade”.
Paulo VI criou-o cardeal, do título presbiteral de “Santa Maria da Consolação no Tiburtino”, no Consistório de 27 de junho desse mesmo ano.
Em 1978, participou no Conclave, celebrado de 25 a 26 de agosto, que elegeu João Paulo I; este nomeou-o seu Enviado especial ao III Congresso Mariológico Internacional que teve lugar em Guayaquil (Equador) de 16 a 24 de setembro. No mês de outubro desse mesmo ano, participou também no Conclave que elegeu João Paulo II.
Foi Relator na V Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos realizada em 1980, que tinha como tema “Missão da família cristã no mundo contemporâneo”, e Presidente Delegado da VI Assembleia Geral Ordinária, celebrada em 1983, sobre “A reconciliação e a penitência na missão da Igreja”.
João Paulo II nomeou-o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e Presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional, em 25 de novembro de 1981. No dia 15 de fevereiro de 1982, renunciou ao governo pastoral da arquidiocese de München e Freising. O Papa elevou-o à Ordem dos Bispos, atribuindo-lhe a sede suburbicária de Velletri-Segni, em 5 de abril de 1993.
Foi Presidente da Comissão encarregada da preparação do Catecismo da Igreja Católica, a qual, após seis anos de trabalho (1986-1992), apresentou ao Santo Padre o novo Catecismo.
A 6 de novembro de 1998, o Santo Padre aprovou a eleição do Cardeal Ratzinger para Vice-Decano do Colégio Cardinalício, realizada pelos Cardeais da Ordem dos Bispos. E, no dia 30 de novembro de 2002, aprovou a sua eleição para Decano; com este cargo, foi-lhe atribuída também a sede suburbicária de Óstia.
Em 1999, foi como Enviado especial do Papa às celebrações pelo XII centenário da criação da diocese de Paderborn, Alemanha, que tiveram lugar a 3 de janeiro.
Desde 13 de novembro de 2000, era Membro honorário da Academia Pontifícia das Ciências.
No dia 6 de fevereiro de 2013, durante o Consistório Ordinário Público para a canonização de alguns Santos, anunciou a decisão de renunciar ao ministério petrino com estas palavras: “Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro”.
O seu pontificado se concluiu em 28 de fevereiro de 2013.
Em seguida, Bento XVI foi morar na Cidade do Vaticano, junto ao Mosteiro “Mater Ecclesiae”, como Papa Emérito.
Na Cúria Romana, foi Membro do Conselho da Secretaria de Estado para as Relações com os Estados; das Congregações para as Igrejas Orientais, para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, para os Bispos, para a Evangelização dos Povos, para a Educação Católica, para o Clero, e para as Causas dos Santos; dos Conselhos Pontifícios para a Promoção da Unidade dos Cristãos, e para a Cultura; do Tribunal Supremo da Signatura Apostólica; e das Comissões Pontifícias para a América Latina, “Ecclesia Dei”, para a Interpretação Autêntica do Código de Direito Canónico, e para a revisão do Código de Direito Canónico Oriental.
Entre as suas numerosas publicações, ocupam lugar de destaque o livro “Introdução ao Cristianismo”, uma compilação de lições universitárias publicadas em 1968 sobre a profissão de fé apostólica, e o livro “Dogma e Revelação” (1973), uma antologia de ensaios, homilias e meditações, dedicadas à pastoral.
Grande ressonância teve a conferência que pronunciou perante a Academia Católica Bávara sobre o tema “Por que continuo ainda na Igreja?”; com a sua habitual clareza, afirmou então: “Só na Igreja é possível ser cristão, não ao lado da Igreja”.
No decurso dos anos, continuou abundante a série das suas publicações, constituindo um ponto de referência para muitas pessoas, especialmente para os que queriam entrar em profundidade no estudo da teologia. Em 1985 publicou o livro-entrevista “Informe sobre a Fé” e, em 1996, “O sal da terra”. E, por ocasião do seu septuagésimo aniversário, publicou o livro “Na escola da verdade”, onde aparecem ilustrados vários aspetos da sua personalidade e da sua obra por diversos autores.
Recebeu numerosos doutoramentos “honoris causa”: pelo College of St. Thomas em St. Paul (Minnesota, Estados Unidos), em 1984; pela Universidade Católica de Eichstätt, em 1987; pela Universidade Católica de Lima, em 1986; pela Universidade Católica de Lublin, em 1988; pela Universidade de Navarra (Pamplona, Espanha), em 1998; pela Livre Universidade Maria Santíssima Assunta (LUMSA, Roma), em 1999; pela Faculdade de Teologia da Universidade de Wroclaw (Polônia) no ano 2000.
Por: Rádio Sol Mansi
Imagem: Radio Vaticana
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